sábado, 11 de julho de 2009

Perdendo as Referências

Todo mundo É segundo suas referencias: sou filha de fulano, nasci em tal país, tenho tal profissão, gosto de tal comida, musica ou gênero de filme, sou tímida, sonhadora, criativa, controladora, generosa, tenho qualidades e defeitos.
Todo mundo tem um passado repleto de historias para contar. Temos um trabalho ou tarefas para fazer durante o dia, temos uma casa ou hotel para voltar à noite. Temos roupas no armário, fotografias na porta da geladeira, livro na cabeceira e esperanças no coração. Todo mundo É segundo suas referências. Referências internas, emocionais que se exteriorizam através de palavras ou pequenos gestos, sorrisos e lágrimas. Referencias biográficas, históricas e, um monte de tranqueira entupindo os caminhos. Todo mundo tem uma foto da qual não se pode separar, um brinquedo antigo uma carta recebida quando ainda se escreviam cartas.
Olho a minha volta e procuro ver quais coisas posso dispensar. O que é verdadeiramente importante na minha vida? Mesmo jogando fora a metade de minhas coisas e, só ficando com as mais importantes, ainda sobra muita coisa. Não nos desfazemos de coisas nem de memórias, pois elas são as nossas referencias. Acreditamos ser um acervo vivo de coisas e lembranças, acreditamos ser porque temos referencias que nos fazem lembrar quem somos.Uma vez nos EUA numa entediante reunião formal, um senhor me fez uma pergunta que, mais tarde foi repetida por dezenas de vezes, em outras reuniões formais por outras pessoas
What do you do for living ?” Respondo “I breath”. Sim para viver basta respirar.Vemos nos noticiários de TV pessoas que perdem suas casas em calamidades e ficam gritando e andando a esmo e se perguntando O que vou fazer ? A casa, o lar esse é um referencial básico. Me pergunto se é possível viver sem referencial algum; no meu bairro tem muito morador de rua, sem casa , objetos ou família, parecem tranqüilos, ficam nas calçadas acompanhados de seus cachorros, seu único referencial e, parecem não necessitar mais do que isso, um cachorro.
Hoje sábado dia 11 de Julho, São Paulo foi surpreendida por uma frente fria e um temporal, com os problemas no telhado, a casa está cheia de goteiras, e as coisas foram se amontoando em locais secos sem qualquer organização. Hoje para postar meu primeiro artigo no Blog, vários temas foram escolhidos, o tema da dor, o tema da consciência corporal , um texto sobre Grof e a vida fetal, minhas primeiras experiências no curso Ágora de terapia Neo Reichianas e por ai vai...Acontece que não encontrei nenhum desses apontamentos. Caixas com moletom para vender no brechó estão empilhados junto com antigas agendas e diários pessoais, tudo se mistura.Um saco de ração está apoiando uma caixa de louças antigas do Brechó Quitandinha e, as caixas de brinquedos do Bazar Jabuticaba servem de degrau para subir até o mezanino onde tenho livros de arte e algumas apostilas. Me deu desespero, como poderia escrever tudo que eu havia minuciosamente listado ontem a noite antes de ir dormir ? Como poderia escrever sobre Grof se não acho o livro “Alem do Cérebro”? Como escrever sobre o curso de terapias Neo Reichianas se não acho o meu caderno de apontamentos do Ágora? Depois de me desesperar e me dar conta que uma depressão severa se avizinhava, comecei a pensar se era realmente importante escrever sobre Grof ou Reich ou, se não seria muito mais honesto com o leitor, eu escrever que minha vida está um caos e, que apesar de lotada de coisas e de referencias, eu estou sem poder usar nada, parece que todo o meu saber ficou empacotado, meu potencial encaixotado, minhas habilidades perdidas ou misturadas, estou como o morador de rua, somente com um cachorro.

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