segunda-feira, 10 de maio de 2010

Não havia nada de bom
naquela teta maldita
era leite amargo
azedo
que azedava cada dia mais.
Era desconectada do resto do corpo
era um apêndice
uma corda
uma mangueira
flexível
fria
metálica.
Eu voltava a ela
de tempos em tempos
embora já enrugado
com a calva ferida
por movimentos repetitivos
mão cansada
nervosa, desobediente
insolente.
Quando o sangue escorria e
pingava a ponta de meu nariz,
voltava então à teta ilusória.
Experimento científico
sou eu, feto abandonado
ainda no ventre
criado em tubo de ensaio,
hoje crescido
envelhecido
aposentado
ferido.
Fiquei assim, inacabado
ligado à teta flexível.
Sou parte dela
sem sabê-lo
sonâmbulo apego
por mais longe que vá
a ela sempre retorno
a teta flexível
fria
metálica



RB
" Dangler" escultura da canadense radicada em Vitória, Luanne Martineau, em feltro, seda e organza, ano 2008