segunda-feira, 10 de maio de 2010

Não havia nada de bom
naquela teta maldita
era leite amargo
azedo
que azedava cada dia mais.
Era desconectada do resto do corpo
era um apêndice
uma corda
uma mangueira
flexível
fria
metálica.
Eu voltava a ela
de tempos em tempos
embora já enrugado
com a calva ferida
por movimentos repetitivos
mão cansada
nervosa, desobediente
insolente.
Quando o sangue escorria e
pingava a ponta de meu nariz,
voltava então à teta ilusória.
Experimento científico
sou eu, feto abandonado
ainda no ventre
criado em tubo de ensaio,
hoje crescido
envelhecido
aposentado
ferido.
Fiquei assim, inacabado
ligado à teta flexível.
Sou parte dela
sem sabê-lo
sonâmbulo apego
por mais longe que vá
a ela sempre retorno
a teta flexível
fria
metálica



RB

3 comentários:

  1. Ruth DO CÉU...
    QUE COISA MAIS LINDA E TRISTE VOCE ESCREVEU.
    Que dolorido.
    Como vc. escreve lindamente...como vc. expressa sua secura, seu deserto de mae.
    Queria poder preencher de alguma forma esse espaço vazio e gelado que já está quase solidificando.

    abrç. forte, c/ admiraçao e respeito.
    sueli raquel

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  2. Sueli, cada mulher é um pouco mãe,mesmo que de outra mulher mais velha.Mulheres deviam estender essa doçura maternal sem restrição e economia, esse é um atributo feminino quase divino
    bjs
    Ruth

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  3. Ruth, ACORDEI E ESTAVA NA MINHA TELA O "Rasga Coração".
    Como? - Nao sei...
    Relí.

    Isso é algo tão forte,
    tão lindo...tão machucado e ferido.
    Cicatrizes marcadas a ferro e fogo na alma e na carne da filha.

    Isso deveria ser publicado.
    É lindo demais.
    abraço muito forte,
    sueli raquel

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