domingo, 26 de junho de 2011

domingo, 17 de abril de 2011

Toda mulher, um dia, já foi abandonada numa cama vazia.Chorou teve raiva,achou que ia morrer. Jurou nunca lavar os lençóis, enrolou-se, esfregou-se neles. Passou o resto do dia cheirando seus cabelos, suas mãos, para a noite, antes de voltar para a cama, parar na porta do quarto,recompor-se,respirar fundo e encaminhar-se decidida a lavanderia

sexta-feira, 1 de abril de 2011


É hoje,

que o vento

me leva

me sopra

me endoidece

de calores úmidos

de luxuria breve

vem de repente

a galope

mudando o rumo

das minhas escolhas

quem sou eu para determinar o tempo ?


Luxuria Breve de Ruth Botelho ,quinta 31 de Março de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011


DANDARA

Eu só acreditava em Drummond:
o amor chega tarde
Não conhecia o amor que fulgura sem aviso
esse que se sabe proibido
o amor que já se sabe perdido desde o início
Eu não acreditava no impossível
vinha tão sóbria, tão cheia de medidas
não conhecia o esplendor da queda
nem a violência dos abismos


Da poeta Potiguar Iracema Macedo








Ida ao cinema


Vamos?
Sou tua

Vamos?
Te amo

Vamos?
Mais que minha própria vida

Vamos?
Tenho medo de tanto amor

Vamos?
Às vezes dá uma tristeza

Vamos?
Nostalgia, não sei...

Vamos?
Saudades tuas,mesmo ao teu lado

Vamos?
Para onde?

Vamos?


Ruth Botelho SP Domingo dia 2 de janeiro de 2011

domingo, 29 de agosto de 2010





O Jarro de Sévres

Ele falou
___“ Vai sacudir as entranhas!”
E se afastou rindo, andando desajeitado, enquanto olhava para trás.
Ele era um chato, mas era o único colega da fábrica que caminhava ao meu lado todo fim de tarde, rumo a estação.Entrei no ônibus apinhado, encontrei um lugar de pé e me espichei para segurar na barra de ferro que serve de apoio as mãos, perto do teto .
Sorri assim meio de canto, e pensei, ele é um chato, mas até que tem razão, vou “sacudir as entranhas”bairro por bairro,até que o poente se transforme numa noite fria, úmida e fedorenta,como a de qualquer bairro operário.
Chego, subo as escadas de meu prédio e a cada degrau o meu corpo se adensa. Começo leve, e no quinto patamar peso uma tonelada,uma tonelada de 52 anos, prestes a se aposentar.

Abro a porta de meu apartamento de solteiro, o único que não cheira a comida; barulhos sobem de todos os andares e se desfazem no meu. São ecos de mães, pais, crianças, latidos de cachorros, gritos de papagaios, que me remetem a minha infância.
___”Jantar está na mesa, veja se o pai....”
Alguém grita num dos apartamentos e, esse fragmento de frase, me traz a memória minha mãe. Sinto o suave perfume francês, vejo-a no seu robe de seda esvoaçante, percorrendo os corredores do enorme apartamento burguês, finamente decorado.
___”Jantar está na mesa, veja se seu pai está na biblioteca e diga para vir,antes que a sopa esfrie”
Quantos anos eu tinha? Não me lembro.Não me lembro de quase nada.Minha memória fecha quadros, como as pedrinhas de um caleidoscópio,conforme giro outra forma surge e não consigo mais voltar a anterior. Minha mãe se desfaz,vaporosa,leve,flutua como uma nuvem.Eu a perco.
Uma briga começa no segundo andar,um homem grita, a mulher grita, as crianças choram,algo quebra se estilhaça, e me lembro do que não queria.Os alemães entram no apartamento, o Sévres mais querido de minha mãe,cai de uma colunata e se espatifa no chão,quebrado em mil pedaços, a respiração da família fica suspensa no ar.O resto não me lembro.
Nunca quis casar, tinha medo.Uma vez amei,quando era muito jovem e havia recém emigrado par aos USA, ela se parecia com o que eu me lembrava de minha mãe, parecia com o rosto que eu via a frente do meu cadeirão, enormes olhos castanhos escuros com cílios muito longos e uma boca rosada que estava sempre rindo.Ela queria ter filhos, eu nunca quis,nos separamos.Não amei mais mulher alguma.Com o passar dos anos os amigos foram se casando,tendo seus filhos, se mudando,se afastando, rareando.As horas trabalhadas aumentaram, os salários diminuíram, os empregos pioraram.Os invernos começaram a ficar longos, os verões curtos e sufocantes.
No dia que o jarro de Sévres de minha mãe quebrou,minha vida mudou drasticamente.
Fui vivendo como dava para se viver. O campo de concentração não foi o pior pedaço,como a maioria das pessoas podem pensar, o pior pedaço foi a vida inteira.
Foi eu ter sido apartado de mim, foi viver diariamente com a sensação de vida provisória,a sensação de estar vivendo uma vida que não era minha,de perder todos as minhas referêrncias de infância, de ter como amigo, um americano gordo e abobalhado,que todo fim de tarde sorria para mim e dizia

____” Vai sacudir as entranhas”

e que, por pior que fosse , aquele sorriso me fazia falta




Timbres de Sévres de 1751 à 1824

para meu filho Jean , Agosto de 2010

Dilma e Serra

Algumas amigas me passam diariamente e-mails políticos contra a candidatura da Dilma.Primeiro, não é necessário me passar, não vou votar nela mas, aproveito para ressaltar alguns itens.Existe na net uma enxurrada de PPS e e-mails contra a Dilma noentanto, nunca recebi um PPS ou e-mail falando da trajetória política do Serra.Com isso o nome da DILMA tem sido reforçado e está no inconsciente coletivo.É o famoso ,fale mal mas fale de mim.Eu gostaria de ver na net uma enxurrada de PPS elogiando o Serra e trazendo a público sua vida privada e política. Outra crítica que faço é que os PPS anti-Dilma se apóiam na sua militância política, militância essa da qual Serra tb participou e,por causa dela,foi exilado político.Enfocando por esse ângulo, enfraquece tb o candidato Serra e perde-se ao meu ver um valioso momento para se fazer jus a um período negro da história do Brasil.Um período que a Argentina expôs ao mundo e que todos os brasileiros querem colocar debaixo do tapete.A verdade é que a ditadura militar foi cruel,torturou e matou centenas de jovens, separou famílias,censurou a cultura, substituiu um cinema nacional aclamado no mundo inteiro,pela pornochanchada que, impera até hoje nas TVS brasileiras.O período militar controlou a política a economia a ciência a cultura e a mente de todos jovens desse pais.Fala-se tanto do incipiente movimento dos Caras Pintadas que pretensamente teria derrubado o presidente Collor de Mello, só porque uma centena de jovens saiu as ruas de algumas capitais brasileiras com rostos pintados, pedindo o impetchman de um presidente já previamente condenado.Um golpe de marketing para, tentar ressuscitar uma geração alienada.Não sou de forma alguma contra a militância política que acabou desembocando na ditadura.Sou contra sim a violência a luta armada a tortura e assassinatos seja de que lado for.Os motivos que levaram a militância política dos anos sessenta me escapam, eu era muito jovem,uma adolescente de família carioca burguesa.O pouco que fica em minha já enfraquecida memória,é a imagem de uma oligarquia, a qual a minha família pertencia, preconceituosa e opressora que, controlava o país não deixando espaço para que as classes menos favorecidas progredissem. Me parece “e já não falo de minha enfraquecida memória, mas sim, de minha triste realidade”, que o mundo todo mudou após os anos 60”,mudou em direção ao avanço da tecnologia e a deterioração do individuo.Não se trata de Dilma ou Serra, apesar de que ao meu ver, a Dilma ser a pior candidata, trata-se de saber quem é a pessoa indicada a catalisar uma mudança de paradigma.Os anos 60” tentou plantar uma semente de cidadania e justiça social que não caiu em terra fértil,desvirtuou-se numa luta armada e transformou seus militantes num espelho do opressor






O mundo hoje é regido por um capitalismo onde, “se alguém tem é porque alguém não tem”,um ópio social que anestesia a população do planeta,população essa que está mais interessada em ter do que em ser,presa a um ego cada vez mais fortalecido pelos bens de consumo , que coloca a auto estima constantemente em risco. A corrida é em fazer parte do grupo "que tem" onde de alguma forma estamos protegidos. O governante certo será aquele que iniciará uma mudança rumo a novos valores, onde a população possa se sentir segura não na aquisição de seus bens de consumo, mas na aquisição de valores pessoais, na segurança de um governo correto que olha e contempla suas necessidades básicas como saúde, moradia,emprego e educação.Daqui para frente a luta será colocar fim a esse desvaírio doentio da identificação pessoal com tudo que é material e consumível e deslocar a identificação para valores que não tem preço.Os prazeres e confortos da moderna tecnologia são o premio que recebemos quando outros valores, maiores mais humanos e fraternos já foram introgetados.Os valores puramente materiais não são um fim e nem deveriam em hipótese alguma, ser a meta que faz um homem ou mulher sair de sua casa para trabalhar.Esses valores são uma pequena parcela,nossa necessidade básica não vai muito alem de comida moradia educação e saúde, tudo que ultrapassa isso é um supérfluo que deveria vir em segundo plano.





Manter o povo anestesiado e identificado com esses valores materiais não passa de uma estratégia para alimentar empresas e bancos gigantescos que hoje controlam o mundo. A verdade é que tudo que se torna imensamente grande é totalmente indecente. A enormidade de um magnata só reforça a pobreza, cidades grandes de mais só criam doenças sociais,empresas gigantescas ganham poder político e essa não deveria ser a sua função social.Deveria existir uma tesoura cortando tudo que fosse doentiamente grande em salutares pequenos pedaços.Assim um magnata seria picotado em diversos micro empresários de sucesso, uma megalópole como SP, seria recortada em pequenas ou medias cidades auto sustentáveis.Nosso mundo não quer gigantes magnatas,quer apenas que as coisas funcionem e que o povo seja saudável e feliz.


Ruth





Campanha de lançamento da cadeia Mac Donald"s na Índia, mas não é lá que a vaca é sagrada ?
parece que estão falando " Voces já nascem palhaços!"

domingo, 8 de agosto de 2010

Lady Godiva, a mulher lapidada e a amante do Bruno


( Lady Godiva, tela de John Collier, circa 1897)


Na idade média presumivelmente entre os anos de 990 e 1087 viveu na Inglaterra a nobre “Lady Godiva” cujo nome quer dizer “ Presente de Deus” Essa aristocrata era casada com Lofric, o Conde de Mércia, que embora homem piedoso e generoso, havia baixado leis de taxação de impostos que oprimiam os cidadãos de Coventry. Sua esposa vinha lhe suplicando para revogar tais leis; um dia bastante irritado, o marido lhe respondeu que o faria no dia que ela desfilasse nua montada num cavalo branco pelas ruas de Coventry.Lady Godiva assim o fez. Reuniu seus cortesãos e pediu que todos os habitantes de sua cidade ficassem dentro de suas casas com portas e janelas fechadas, despiu-se, soltou seus longos e encacheados cabelos sobre seu corpo nu e, desfilou por toda a deserta Coventry.Diante disso seu marido não teve outra alternativa a não ser retirar as taxas.Conta-se que Lady Godiva morreu em idade avançada e foi uma pioneira para sua época, por ser a primeira mulher na Inglaterra, a ter propriedades em seu nome, na idade média registros de imóveis eram prerrogativas masculinas.Lenda e história se entrelaçam, não importa se real ou não,ficam-nos o ensinamento de ética , generosidade e respeito.
Recentemente os tablóides e sites estão repletos de apelos para que, a vida da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani ,de 43 anos de idade e mãe de dois filhos seja poupada da morte por lapidação.Sakineh foi condenada pelo crime de adultério, punido por morte pelo código iraniano.
Numa jurisprudência de uma total falta de generosidade ética e respeito, medidas que nem mesmo na idade média ocidental seriam concebidas; no oriente médio, em pleno século XXI,mulheres ainda são condenadas a serem enterradas até o pescoço e mortas a pedradas sem qualquer direito a defesa.
Lady Godiva, usou seu livre arbítrio e fez aquilo que achava que deveria ter sido feito.Sakineh também usou de seu livre arbítrio e fez o que achava ter direito de fazer,tomou posse de sua vida,de seus sentimentos e de seu corpo
Hoje as manchetes focam Fernanda Gomes a amante do goleiro Bruno e escrevem “Ela fez xixi na roupa quando a policia entrou em sua casa para lhe prender”(manchete de capa do site TERRA).Não posso parar de pensar no povo de Coventry que fechou as janelas e portas enquanto Lady Godiva passava. Nosso presidente marqueteiro, num lance atrapalhado de publicidade, as vésperas de uma eleição, ofereceu asilo no Brasil a iraniana Sakineh, agiu como salvador da pátria como se não houvessem ONG’S movimentos internacionais pelos direitos humanos, organizações internacionais pelos direitos das mulheres, mídia e muito mais se articulando ordenadamente para a libertação de Sakineh.Nosso presidente inebriado pelo seu carisma egóico ,acreditava piamente que, por ter sido marqueteiramente simpatizante do Iran e ter intermediado internacionalmente sua política energética,teria recebido de mãos beijadas, como um “carinho” de Ahmadinejad o exílio da condenada iraniana. O presidente do Iran que agora alterou a condenação de Sakineh de adultério para a de, tentativa de assassinato do marido, ainda escarneceu do presidente brasileiro e mostrou ao mundo que tem poder de vida e morte, seja sobre uma mulher seja sobre nações com o seu poderio nuclear. O código de lei Iraniano sofre de falta de liberdade e de respeito à mulher, enquanto isso aqui no Brasil, sofremos de um excesso de liberdade que bem poderia ser chamado de libertinagem, pornografia falta de ética e desrespeito a mulher. Ambos os paises lapidam o sexo feminino, ambos pecam por falta de equilíbrio e bom senso.Temos uma mídia que coloca nas primeiras páginas que a amante do Bruno fez xixi nas calças...e aqui, não somos como o povo de Coventry que fecharam as janelas, aqui abrimos todas as janelas.Esmiuçamos a vida das pessoas, entramos sem qualquer respeito em suas intimidades, banalizamos as dores, não vemos o drama de alguém em estado de pânico urinar na própria roupa, afinal de contas ela é só a amante e provável conivente no assassinato de outra amante do goleiro.
a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani presa desde 2006 no Iran e setenciada a morte por lapidação em 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Não havia nada de bom
naquela teta maldita
era leite amargo
azedo
que azedava cada dia mais.
Era desconectada do resto do corpo
era um apêndice
uma corda
uma mangueira
flexível
fria
metálica.
Eu voltava a ela
de tempos em tempos
embora já enrugado
com a calva ferida
por movimentos repetitivos
mão cansada
nervosa, desobediente
insolente.
Quando o sangue escorria e
pingava a ponta de meu nariz,
voltava então à teta ilusória.
Experimento científico
sou eu, feto abandonado
ainda no ventre
criado em tubo de ensaio,
hoje crescido
envelhecido
aposentado
ferido.
Fiquei assim, inacabado
ligado à teta flexível.
Sou parte dela
sem sabê-lo
sonâmbulo apego
por mais longe que vá
a ela sempre retorno
a teta flexível
fria
metálica



RB
" Dangler" escultura da canadense radicada em Vitória, Luanne Martineau, em feltro, seda e organza, ano 2008

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A Morte

Não conheço ninguém que trabalhe mais do que a morte
Lá vai ela carregando seu fardo
Ceifando... ceifando... ceifando....
Sem descanso, sem sábado sem domingo sem feriado...
Dia após dia, noite após noite.
Lá vai a pobre e cansada morte
Quase morta ela mesmo, de tanto trabalhar.
Ruth 7/1/2010

domingo, 15 de novembro de 2009

Babel e a dificuldade em escutar o outro

Geométricas

Procurar as orgânicas, os movimentos espontâneos, isto é, compreender a natureza para depois demarcar na sua geografia. A construção também tem que ser uma desconstrução. É necessário reflectir e inflectir. Procurar está na essência da geometria. Resolver, encontrar o arco, ligar dois pontos, enfrentar um projecto e uma idéia, empreender uma lógica, um mundo.

Tiago Carvalho
Poeta português


Babel e a dificuldade em escutar o outro

Um conflito pode durar um segundo, uma hora,um ano ou uma vida inteira.Meu último grande conflito demorou uma década e foi entrecortado por vários pequenos conflitos.Os últimos anos, claustrofóbicos me apertavam a garganta e seqüestravam o ar.Quando achei que ia sucumbir a um estado de loucura sem volta, inexplicavelmente tudo se abriu.Foi simples, começou numa ida a Eletropaulo, companhia gerenciadora de distribuição de energia elétrica.Fui encaminhada ao guichê 25 onde uma moça morena magra de olhos totalmente inexpressivos e boca sorridente me perguntou o que eu desejava.Retirei dezenas de contas de uma pasta e, esbaforida tentava explicar que havia sido orientada erroneamente por outra atendente na semana anterior.O sorriso da moça se alargou ainda mais e ela respondeu “A senhora já percebeu que a maioria dos problemas das pessoas são por mal entendidos?”
Como assim ? Perguntei “As pessoas não entendem a pergunta então a resposta fica sem sentido, com a resposta sem sentido a pessoa se desespera então a outra pessoa se sente acuada e por ai vai...” Por frações de segundos os últimos eventos da semana passaram qual um filme por minha tela mental e, é verdade, todos os mal entendidos da semana aconteceram porque o que eu havia falado não havia sido escutado ou havia sido escutado dentro da possibilidade de escuta da parte ouvinte, o que na maioria das vezes não legitimava o que eu havia falado. Sem dúvida vivemos numa Babel, onde a minha emoção busca sofregamente nos meus arquivos internos uma palavra que melhor possa traduzir o momento, onde a minha compreensão da palavra é diferente da compreensão do meu interlocutor. Primeiro de tudo, os arquivos internos são particulares pessoais e muito singulares. Cada pessoa armazena um numero diferente de verbetes e dá a cada um deles um significado pessoal, alem disso cada pessoa atribui a cada verbete uma ou varias traduções emocionais. Talvez devêssemos nos apresentar de outra forma, poderíamos começar as conversações assim “Bom dia eu sou a Ruth, armazeno 4200 verbetes e você quantos verbetes armazena?” Depois num segundo passo poderíamos ir mais fundo “ Muito bem que significado você dá ao verbete “INVEJA” ?” E só depois disso estaríamos mais confortáveis para conversar com as pessoas.Ao voltar para casa, não sem uma certa raiva e um sentimento de orgulho ferido, tive que dar mão a palmatória de que a tal menina atendente da Eletropaulo havia me dado uma aula de filosofia, ela havia me ensinado uma lição que carrego até hoje e, essa lição iniciou um grande processo de mudança e ruptura de um padrão de relacionamento que havia desembocado em uma década de conflitos familiares onde eu, ingenuamente havia acreditado que minhas explanações aos meus familiares haviam sido escutadas e negligenciadas, somente agora passada uma década e que percebo que nada que foi por mim dito, foi escutado ou compreendido, portanto nenhuma falta, falta só existem quando negligenciamos aquilo que compreendemos, não podemos culpar os outros por não nos escutarem, a maioria das pessoas não o faz.

Babel, instalação de Cildo Meireles de 2001, uma torre de rádios de vários formatos diferentes, cada um sintonizado numa emissora diferente, uma Babel radiofônica

domingo, 8 de novembro de 2009

Música: Ando Devagar porque Já tive Pressa, Almir Sater

Florais de Bach e a Sindrome da Pressa


Florais e a Síndrome da Pressa

Recentemente uma amiga muito querida que, está passando por problemas familiares, me pediu uma indicação de floral. Como ela não é minha paciente e sim uma amiga e, não se dispunha a uma terapia e sim a um remédio emergencial, eu indiquei RESCUE+ELM.Passados alguns dias ela me disse ter tido uma "piora” e não uma melhora.Perguntei porque ela achava isso e, ela respondeu que estava “Lenta, muito lenta” que o dia não estava rendendo e que suas funções estavam comprometidas. Ela estava desapontada e preocupada com a reação à medicação. Eu respondi que não havia nada errado com ela, o que estava acontecendo é que agora ela estava no ritmo “normal” dela !Ela se assustou com a minha resposta, se aquele era então o ritmo normal dela, isso queria dizer que não ia dar conta de todas as tarefas e as demandas diárias? Respondi que daria conta sim, mas, num outro ritmo. Outra coisa que alertei foi de “peneirar” a demanda diária e ver o que realmente era importante e o que poderia ser descartado. Recentemente, foi criado mais um rótulo para mais uma doença emocional do século XX, a “Síndrome da pressa” Essa síndrome é, assim como a Síndrome de Pânico, um “filhote” da ansiedade, gerada pelos valores artificiais de uma sociedade moderna consumista e competitiva, que substituiu valores éticos e morais estruturais e, sentimentos amorosos, fraternos e generosos por uma corrida desenfreada relacionada ao “desempenho” pessoal.

O desempenho, ou seja, sua maneira de se apresentar, ser e agir socialmente passou a ter uma importância e reconhecimento social desmedido, o desempenho sobrepujou valores internos do ser e do sentir. A pessoa passa a ser vista não por seus valores internos éticos e morais ou por sua capacidade de amar e dar suporte, mas sim por sua capacidade e criatividade ligadas ao desempenho nas funções sociais profissionais e domesticas.O desempenho como pais, patrão, empregado, profissional ou eclesiástico, não importa, o agir sobrepujando o sentir e o ser. O desempenho de pais não no sentido de dar suporte amoroso mas, sim em preparar o filho para essa mesma competitividade e inserção social. O desempenho de uma mãe em manter a casa em ritmo quase que empresarial ou industrial na mais perfeita ordem e funcionalidade.Um patrão ou empregado funcionando numa organização competitiva e lucrativa. Quando uma sociedade substitui um pilar estrutural básico de valores que acompanham a alma humana desde sua criação, por um pilar frágil e artificial, as doenças individuais e sociais se instalam. Nada pode se sustentar sem uma viga mestra forte, estável confiável e, essa viga mestra sempre em qualquer ocasião será o amor, único sentimento capaz de dar suporte, força coragem, de gerar justiça, fraternidade e de trazer paz a corações e mentes.A “Síndrome da Pressa” que é gerada por valores falsos tem como uma das conseqüências o estresse, fruto de uma cobrança interna relacionada a assertividade, sucesso, êxito e perfeição e a depressão decorrente da frustração e baixa auto estima originária da impossibilidade em cumprir tais metas. A engrenagem desse mecanismo é simples, e para curá-lo basta compreende-lo:
1) A sociedade consumista e competitiva substitui pilares estruturais básicos como os valores internos éticos e morais e os emocionais ligados ao amor e fraternidade por pilares frágeis de desempenho sociais êxito e assertividade.
2) Essa substituição gera doenças sociais e individuais, que se apresentam como baixa auto estima, falta de confiança em si e nos outros, estresse ansiedade, pânico,sentimento de impotência, medo com relação ao futuro, frustração ...
3) Para curar essa doença devemos retornar a valores “ que não tem preço
Entender que para se viver nessa sociedade não podemos nos confundir com sua patologia, fortalecer nosso EU interno, juntarmos amorosamente os cacos da nossa alma esfacelada por anos de desnutrição e corajosamente voltarmos a nos amar e a amar os que nos cercam.

Ruth Botelho

Terapeuta Floral

Para ler mais sbre o assunto acesse o exto do site www.sitemedico.com.br procure a matéria sobre “ Síndrome da Pressa”Dr Vitor Giacomini Flosi e Dra.Danielle Lobato Gouveia Flosi

“Assim, o estresse passou a ser o representante emocional da Ansiedade, sua correspondência psíquica e egoicamente determinada. O fato de um evento ser percebido como estressante não depende apenas da natureza do mesmo, como acontece no mundo animal, mas do significado atribuído à este evento pela pessoa, de seus recursos, de suas defesas e de seus mecanismos de enfrentamento. Isso tudo diz respeito mais à personalidade que aos eventos do destino em si. ”

foto do tronco da árvore ELM , a nossa viga mestra nos momentos de estresse

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Menina que Gostava de Ler


Recentemente foi feita uma pesquisa e se concluiu que nunca as crianças leram tanto... parece uma boa notícia, mas não ! A pesquisa aponta que o aumento da leitura se deve as horas gastas a frente do computador, lê-se muito, mas isso não quer dizer leitura de qualidade. É necessário que a leitura seja orientada por alguém experiente.E quem é experiente ? A algumas gerações que o habito da leitura tem declinado, portanto uma grande maioria de pais não se importa com a leitura. Livros são substituídos por DVD por ser mais rápido e mais fácil, o comodismo tem lugar de supremacia na nossa sociedade.A leitura requer um ritual e um local adequado, requer paciência, silencio e uma certa calma interior cada vez mais rara. Eu amo ler, não troco por nada domestico como TV e DVD. A noite depois do jantar vou para o meu canto de leitura coloco musica clássica ou jazz e perco as horas.Por um grande período da minha vida adulta isso foi impossível ,mas na infância eu li muito.O meu contato com o livro foi as escondidas não fui orientada por meus pais, o que derruba a minha teoria referente a orientação da leitura.Comecei a ler por curiosidade e até por ser proibido.Na casa de meus pais no atual Rio de Janeiro, na época Estado da Guanabara, Distrito Federal, a leitura era terminantemente proibida.Papai repetia mulher culta não casa, pra que que um marido vai querer mulher que lê ? Fui criada por duas famílias totalmente diferentes como água e azeite, cada uma no seu espaço e nunca se misturavam. A família paterna fazendeiros da Zona da Mata de Minas Gerais, era uma família muito rígida de princípios morais medievais. A família materna de artistas, intelectuais e diplomatas, pessoas internacionais, cosmopolitas muito indulgentes e totalmente compromissados com a agenda social. Por incrível que pareça a minha leitura começou na família paterna.Todos os anos eu ia passar as férias de Julho em Leopoldina, na ocasião a cidade hospedava uma feira agro pecuária e meu avô expunha suas vacas leiteiras, com os ubres pesados, as veias expostas quase arrastando pelo chão. A casa da cidade era enorme, (sim casa da cidade, pois havia a fazenda há uns quarenta minutos no município de Abaíba e a vida do vovô era entre essas duas cidades, de dia na fazenda à noite em casa) e tinha uma biblioteca com estantes de madeira e portas de vidro trancadas a chave. Pegar livro só com autorização dos avós e eles é que escolheriam o que deveríamos ler.Sempre que chegava do Rio, a noite vovó me pegava pela mão e dizia vamos pegar um livro para você ler nas férias ela então abria a imensa biblioteca e aí, já começava o meu prazer da leitura, começava pelo cheiro....cheiro de livro trancado.Ela abria uma das portas e dizia, nessas férias você vai ler um livro da Condessa De Ségur , coleção Menina Moça, você prefere Meninas Exemplares ou Os Desastres de Sofia ? Para mim qualquer um mas, o que queria mesmo era fuçar a biblioteca inteira, passar uma tarde com todas as portas de vidro abertas, ler livros de anatomia, geologia, ler os livros que eu via vovó levando para o quarto a noite o tal O Crime do Padre Amaro que eu havia escutado ela cochichando com o vovô.Mas meu pedido era sempre recusado.Um dia roubei as chaves,nunca tive tanto medo, suava em bicas, tremia, o corredor parecia não ter fim , eu achava que me movia em câmara lenta, meus pés eram como de chumbo.Entrei na biblioteca a porta rangeu mais do que o normal, a luz era fraca, a maçaneta da porta era alta de mais as estantes iam até o teto e o tempo era curto.Arrastei uma poltrona pesada de jacarandá e couro, subi, o acento era de molas, afundei, voltei coloquei bastante almofada , peguei o primeiro livro de couro vermelho que encontrei e nem vi o que era, estava confusa com medo e arrependida.Levei o livro para o quarto e coloquei debaixo do colchão só a noite quando todos dormiam é que peguei a minha inseparável lanterna de pilha, joguei meu roupão na fresta da porta e ascendi debaixo dos lençóis. O livro era Robinson Crusoe escrito por Daniel Defoe.Esse livro marcaria a minha vida de tal forma que até hoje quando me perguntam qual o melhor livro que leu em sua vida eu respondo Robinson Crusoe.
É claro que li e, venho lendo, livros muito melhores, mas, esse me marcou de sobremaneira. Primeiro porque não foi escolhido nem por minha avó nem por mim conscientemente mas por minha alma.Esse livro apareceria ao longo da minha vida em sessões de analise e em flash back, e até hoje ano de 2009, mais presente do que nunca.
Para a criança que estava acostumada aos salões da sociedade carioca, nas festas com a família materna, no rigoroso colégio Sion e nos livros da Condessa de Ségur dados pela avó paterna, a leitura realista e moderna da obra de Defoe foi um susto, tirava o meu sono e a minha respiração, afogada debaixo das cobertas, lendo com a lanterna apontada para as letras.Li em poucas noites, passei as primeiras semanas de férias com dor de cabeça,dormindo pelos cantos da casa, vovô chegou a chamar o médico que para a minha sorte recomendou repouso e assim pude ler o livro durante o dia também.Para quem nunca leu o livro, é a história de um naufrago que fica 28 anos em solidão numa ilha, (depois de algum tempo ele tem a visita do índio Sexta Feira que é o alter ego dele) é a história da tenacidade, da força, do homem vencedor, da fé e da esperança.Historia de um homem que tem que construir a sua vida a partir do nada, lutando contra as intempéries da natureza, chuvas, mosquitos fome frio e consegue vencer sem a ajuda de ninguém. Poderia ser a historia do orgulho, mas também uma historia místico religiosa, o caminho do herói mas, mas do que tudo, o que me levava as lágrimas era a historia da solidão humana.

Condessa de Ségur 1799 / 1874